Era 15 de abril de 2014. Terça-feira. Trabalho normal na delegacia, flagrante de um ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas. Dois menores apreendidos vendendo entorpecentes em um dos locais de maior criminalidade de Brasília. Tudo seguia normal, sem alteração.
Flagrante sendo feito na Delegacia da Criança e Adolescente II. Meu telefone toca. Era minha esposa. Assustei. Não era comum receber ligações dela durante meu trabalho. Ela sabia da minha rotina maluca, ligaria apenas numa emergência, numa situação crítica.
A voz dela estava trêmula. Começou a ligação pedindo desculpas. Fiquei sem entender, confesso. Foi falando, falando, e dizendo quase nada. Pedi calma, respira e explica aí!
Ela havia corrigido a minha prova feita no domingo anterior. Era a prova de Policial Legislativo Federal da Câmara dos Deputados. Uma prova que fiz com poucas pretensões. Com a voz embargada, ela contou quantas questões acertei. Além de corrigir, ela ainda correu num site de ranking de concursos e viu que eu estava entre os dez primeiros até aquele momento. Confesso que tremi as pernas. Não sabia se falava com a equipe que estava comigo ali, se ficava na minha. Ela poderia ter corrigido errado. Havia diferenciação de peso por matéria. Não tinha como ela estar certa. Comentei por alto com um amigo que também fez a prova e seguimos com os procedimentos lá na delegacia.
Claro que após isso a cabeça foi a mil! Será, gente? Ora, um concurso com 57 vagas, eu há um tempo sem estudar, pegando edital após a publicação. Claro, eu tinha uma senhora base de estudos. Já havia estudado para a PF, PCDF, auditor fiscal do trabalho. Tinha um bom conhecimento adormecido ali. Mas estava parado, estudei os três meses após o edital do jeito que deu, sem muito tempo disponível na minha rotina diária.
Assim que cheguei em casa, corri na prova. Corrigi novamente. Havia erro. Ela não contabilizou umas duas ou três questões. Minha nota era ainda maior do que a que ela pensava. Minha posição no ranking subiu. Pernas trêmulas novamente.
Rapaz, ainda tinha a redação. A temida redação! “Redija um texto dissertando acerca da crise ucraniana”. Tem base isso? Não sabia nem onde ficava a Ucrânia direito, que dirá saber de crise lá. Consegui fazer um texto usando por base a Guerra Fria, coisas da Segunda Guerra Mundial; enfim, utilizei uma base histórica e um pingo de informação que tinha sobre a situação por lá. Foi tenso até sair a nota, confesso. Não iria resolver nada estar bem na objetiva e ter a redação sem a nota mínima. Saiu a nota um pouco depois. Algo em torno de 32 pontos dos 35 disponíveis, se não me falha a memória.
Deu certo. Desde o dia 17 de setembro de 2014 sou Policial Legislativo Federal na Câmara dos Deputados. Nomeado na primeira turma, dentro das vagas.
Confie no processo, acredite na evolução. Parece clichê, mas é aquilo mesmo de tijolo por tijolo, de degrau por degrau. A sua base de conhecimento nunca vai se perder. Os dias, meses, anos, passados ali na frente dos livros, das apostilas, sites de materiais ou de questões, não serão em vão. Pode demorar um pouco para uns, ser mais célere para outros. Mas acontecerá, desde que você não pare, não desacredite. Mantenha a pegada. Uns dias serão legais, produtivos, outros nem tanto. Saiba administrar a montanha-russa das emoções, e prossiga. Em breve será seu telefone tocando, será a notificação no seu e-mail, será seu F5 quebrado de tanto atualizar a página do diário oficial. Confie e trabalhe, o bom resultado sempre vem.

Victor Rosa – Elitte Concursos
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